Capitulo 4
Eu acordei depois do que eu achava ser poucos minutos. No meu subconsciente eu só pensava em me levantar do meio da estrada mesmo eu me sentindo um pouco tonta e enjoada. Mas quando abri os olhos vi que eu não estava mais no meio da rua. Na verdade essa não era a última coisa de que eu lembrava, era a única coisa que eu me lembrava, como se a minha vida inteira se resumisse ao acidente, por mais que eu tentasse não conseguia lembrar de um outro único fato da minha vida.
Vi umas pessoas em volta de onde eu estava deitada, sentadas em um sofá no canto esquerdo do quarto. Fiquei pensando o que estava fazendo ali. Tentei perguntar o motivo para uma daquelas pessoas, foi aí que percebi que eu não conseguia porque tinha um cano em minha boca. Fiquei mais confusa ainda. O que um cano estaria fazendo em minha boca?
Uma das pessoas que estava sentada, uma mulher para ser mais exata viu que eu acordei e se levantou me encheu de beijos e falou que ia chamar a enfermeira. Enfermeira? Eu estava em um hospital? Quem é essa mulher e porque ela me deu muitos beijos e ficou tão feliz por mim ter acordado? Estou me sentido cada vez mais confusa.
- Muito bem mocinha vamos fazer alguns exames para ver se já podemos te desentubar e como está a sua situação. Vou chamar o doutor. – A enfermeira saiu do quarto deixando um pouco mais clara a situação.
Vejamos, eu já sabia que realmente eu estava em um hospital e sabia que porque tinha um cano em minha boca. Mas havia muitas coisas para serem esclarecidas. Enquanto eu tentava procurar uma resposta para essas perguntas o médico entrou no quarto com mais alguns enfermeiros que me levaram para tirar aquele tubo e fazer vários exames.
Depois de vários raio-x, tomografias, exames de sangue, exames daquilo e exames disso voltei para o quarto.
- Que bom que você voltou. Está tudo bem com ela doutor? – Era a mesma mulher que estava hoje cedo aqui. Mas quem era ela? Eu não conseguia me lembrar.
- Ai Clarinha que bom que você acordou meu amor. Estou tão aliviada agora. – Enquanto ela falava eu devo ter olhado com uma cara de confusa para ela porque ela percebeu algo errado.
- Que... – eu não conseguia terminar a frase, estava muito fraca.
- Não fale nada meu amor. Tente dormir um pouquinho, isso vai fazer você se sentir melhor.
- Quem é vo... - tentei novamente falar alguma coisa ignorando o que ela disse antes. - você?
- Quem sou eu Clarinha? Você não está se lembrando de mim? – Ela falava e várias lágrimas começaram a correr dos seus olhos. - Pensei que você pudesse esquecer de todos, mas de mim você lembraria...
Comecei ter uma súbita pena por ela, eu não queria a magoar mas realmente eu não a reconhecia. Para mim ela é tão estranha como qualquer outra enfermeira ali. Mas para ela eu sou muito importante.
Ela saiu do quarto chorando. Antes de sua saída tive tempo de olha-la novamente dessa vez bem no fundo dos seus olhos e como se fosse um clarão na minha mente eu lembrei. Ela era a minha mãe. Como eu pude fazer isso com ela? Porque eu não lembrei dela antes? Sou uma filha muito desnaturada mesmo. Fiquei com um aperto no coração, mas eu não podia fazer mais nada a não ser esperar ela voltar.
Alguns minutos se passaram e eu lutava para esperar ela acordada, eu estava muito cansada mas resisti.
- Mãe. – Foi só isso que eu tive tempo de falar ela veio e me encheu de beijos e abraços e depois começou a chorar de novo mas agora eu sentia que era de emoção.
- Minha filha amada, pensei que você estivesse esquecido de mim. Que bom que você se lembrou, que bom...Mas agora descansa, o médico disse que você precisa dormir e descansar. – Ela disse isso me tampou apesar de não estar muito frio e apagou a luz afinal já era de noite. Não me lembro de ter perguntado por quanto tempo eu tinha ficado desacordada, mas só sei que dormi de novo.
Tudo foi tão estranho eu não me lembro direito do acidente, mas eu sonhei coisas horríveis. Me acordei várias vezes no meio da noite assustada, estava em um sono tumultuado até a hora que uma enfermeira entrou no quarto e me deu um remédio. Não sei que horas eram, mas depois disso dormi muito bem até o outro dia.
Acordei com a enfermeira aplicando remédio em um tubinho que estava em minha veia. Estava me sentindo um pouquinho melhor e me lembrei do dia seguinte um aperto imediato veio no meu coração. Eu não lembrava de muita coisa que eu vivi antes do acidente. Estava ficando nervosa com essa situação. Eu quero saber quem eu sou.
- Mãe, quantas horas demorou para mim acordar depois do acidente? – Perguntei enquanto comia uma gelatina que não tinha muito gosto.
- Tem certeza que você quer falar disso agora? Você está muito fraca ainda.
- Tenho certeza mãe, eu estou bem.
- Você não demorou horas para acordar. – Quando ela falou fiquei aliviada isso quer dizer que fiquei desacordada apenas por alguns minutos - Você demorou exatamente 23 dias para acordar, você estava sedada. – Minha mãe disse com um ar pensativo e meio triste.
- 23 dias? Porque eu estava sedada? Eu não me lembro de muita coisa. – Avia um certo pavor em minha voz.
- Você saiu correndo lá de casa depois de uma discussão e atravessou a rua sem olhar. Era a avenida na frente de casa e vinha um carro em alta velocidade e te atropelou. O Isaac estava lá na hora e tentou te salvar, ele puxou o seu braço e te salvou talvez da morte. Mesmo assim o carro te atingiu, menos é claro. Quando a ambulância chegou você já estava inconsciente, eles te levaram rápido para o hospital logo fizeram vários exames e constataram que você bateu com a cabeça em uma pedra e teve traumatismo craniano onde formou-se um coagulo de sangue que foi retirado com uma cirurgia. Como o seu estado era grave você foi sedada até ficar melhor. E graças a Deus agora você está bem quase sem nenhuma sequela, a não ser por um pouco de falta de memória do que aconteceu antes do acidente, mas o doutor Farias disse que é normal e que vai voltando aos poucos. Você se recuperou muito rápido, mas vai ter que ficar internada por mais alguns dias ainda.
Agora eu estava me lembrando melhor, foi por isso que eu tinha dito Isaac, a última coisa que vi foi ele me puxando pelo braço. Eu devia a minha vida a ele? Eu me lembro claramente dele, mas sinto algo ruim perante ao Isaac. Não lembro exatamente o porquê só sei que ele me fez mal.
Neste momento alguém bateu na porta e minha mãe foi abrir, mas era uma visita que eu não queria ter. Não naquele momento, eu estava sem forças para brigar. E para piorar a situação a minha mãe disse que ia tomar um café e nos deixou sozinhos.
- Clara, que bom que você está melhor. – Isaac falava como se nada tivesse acontecido ates do acidente. Sim agora eu lembro da briga, de tudo. Ver ele clareou a minha mente.
- Isaac, muito obrigada mesmo por ter salvo a minha vida, eu já sei de tudo. Te agradeço mas não é por isso que vamos voltar a sermos amigos ainda estou muito magoada com você. Agora você deve ser também o herói da escola então aproveite a sua fama, eu sei que era tudo o que você queria. Então não fique vindo me visitar, eu já estou bem, já não corro mais risco de vida.
- Não fale assim comigo Clara. – Ele chegou mais perto e pegou a minha mão. – Eu não devia ter feito aquilo, me perdoe. – Falava olhando bem no fundo dos meus olhos, aqueles olhos verdes me magoaram muito, mas ainda mexiam comigo. – Me perdoe, por favor daqui pra frente eu serei diferente. Você não sabe a dor que eu senti te vendo desmaiada no chão toda cheia de sangue, fiquei desesperado. Todo dia depois da aula eu vinha aqui passar as tardes com você enquanto sua mãe e seu pai trabalhavam. Quando soube que você estava acordada vim correndo para cá. Eu não sei porque mas me sinto bem ao seu lado. E se eu fiz o que fiz antes do acidente é porque não sabia o quanto você significava para mim.
O que eu ia falar com uma revelação dessas? Eu estava confusa. O perdoava ou não? Ele tinha me magoado muito, mas aquelas palavras tinham adoçado o meu coração.
- Tudo bem Isaac prometo que eu vou pensar.
Quanto eu falei isso ele voltou a olhar bem no fundo dos meus olhos. Dessa vez acho que nos dois estávamos imóveis, mesmo assim ele foi aproximando o seu rosto do meu devagarinho, até que a minha mãe entrou no quarto quebrando o clima. Reluto em dizer essa palavra, mas acho realmente que foi isso que aconteceu. Ele então me deu um beijo na bochecha.
- Tchau Clara, eu venho te visitar novamente e quero saber a sua resposta. – E então ele saiu.
Eu gostaria da opinião sincera de vocês...por favor comentem!
Agradeço desde já!